
1 Não rasgue meus véus: são tudo que tenho! Não me faça sofrer ao dizer a verdade. Sei que desejas meu bem, mas o custo exige lágrimas e meus olhos estão secos! 2 Vi ayer doce lunas bailando alrededor de cien Mercurios. El cielo es un salón para las estrellas y un pórtico para los sueños de un poeta. Lo que vi ayer todavía resuena hoy: como las lágrimas de un vino rosa, se aglutinando en mis venas, los ojos puros de aquella danza. Ve a caminar y verás lo que vi. Yo te digo, mi amigo: mis pocas horas, ¿de qué valen, si pierdo tanto tiempo tan lejos de las estrellas? 3 Fazendo das celestes coisas lupanares sórdidos, desfiguraram-se os templos e decaíram os homens. 4 Minha partitura é confusa e minhas notas são destoantes. Floresce em meus olhos o sono pétreo, adeja em minha vista o horizonte opaco. Minha vontade é tão fraca; minha visão é tão miúda... Aspiro libertar-me, porém, sou meu próprio cativo. 5 Em ti há a flor que tu procuras, pois o mundo é um manancial de escuridão. Só em ti resplandece o jardim que no mundo procuras em vão. 6 A dor talha o homem e esculpe em seu peito a verdade. A dor purifica o erro e o transmuta em benfazejos. 7 Entreabre o véu maciço da Natura Naturada e verás então o antíloquo perfume de incógnitas verdades. 8 Que imenso anseio por um amor total, vasto como o mar! Que imenso anseio por entregar-me, ilimitado como o firmamento. Que imenso anseio por ser alegre e espontâneo, como a flor e o pássaro. Que imenso anseio por tornar-me vento, suave lilás como o luar. Que imenso anseio de no detalhe me perder!... Que imenso anseio de dissolver-me, inconsciente, à lua cheia! Que imenso anseio de rir e dançar, murmurar da estrela d'alva! Que imenso anseio de ser oceânico, universal, como as árvores e os átomos! Que imenso anseio de tropeçar nas águas cálidas da alma!... Que imenso anseio de navegar, entre tulipas e rosas brancas... navegar! 9 Viver o que vem do coração e despir-se do controle; viver o anseio de ser feliz e radiante como uma flor. Seguir a força extraordinária e incógnita que transmuta corpo e mente. Mergulhar nesse mar, onde há nada e tudo ao mesmo tempo. Deixar para a razão, apenas, as coisas utilitárias, e dar à vida coração. 10 A multidão é uma besta que devora seus filhos mais sábios, pois os mais sábios são muito ácidos, ao mesmo tempo que muito doces.
11
Há em mim algo de tórrido e sórdido: manifesto frases sábias, mas da sabedoria nada entendo! Dir-se-á que possuo a luz, ou ao menos um feixe de vislumbre, mas só me atenho ao breu e ao negrume! O diâmetro e o comprimento de minha sombra são gigantescos! Envolve e camufla, estropia meu ser e fere a lucidez. Meus olhos rangem o apagar e se abatem. A lâmpada inacessa é meu guia, testemunha de tropeços e mais quedas. De algum modo, eclipsal, trovejante e sonolento. Certo é que entre a primeira estrofe e a última reside a alegria, o derradeiro encantamento, o encontro entre o frescor do novo e o ancião, a semente e a árvore madura.
Sou pequeno como um grão. Um felino amordaçado. Sou perpassado pela melodia dos astros e o silêncio do luar e, todavia, meu ser se agita, se impacienta, se acelera… Talvez seja uma instância indefinida, a ponte não construída entre duas extremidades. Margeio minhas mãos e me apego a estas sílabas. Tudo que tenho é este olhar desvanecido pela tristeza. Acaso e infortúnio: sinto-me como um acidente! Não busco a salvação, ao invés, anseio o crepúsculo. Há em mim uma silhueta efêmera, um gosto trivial, uma letra atrofiada, uma palavra que se engasga. Nada encontro. Nada sinto. Mas me remexo, rastejando, em vão. A florescência que não chega. A primavera que não arde. O espinho que me habita. A indecisão. O que sou, senão um grito de desespero?
12
Matei o sábado e lambi o domingo. Um doce amargo, áspero, cingiu minha língua transviada. Fui para a balada das minhas sílabas anotadas. Gozei do dia dilatado em meus poemas. O Sidarta de Hesse desidratou minha lassidez. Apenas uma ressalva: uma adaptação bilíngue bifurca a língua. Muito leite jorra dos prólogos de ardentes livros. Seguem-se nestas páginas tetas gordas. Acabei guardando no meu bolso uma pira de poemas.
13
Em pródigos tomos verti a iracúndia, sustentando nos pés de minha alma um imenso fardo de mil vidas! Não obstante, também na silhueta dessas vidas, a beleza dos amantes, a melodia da serenidade, quando o símbolo da flor passa a ladear o significado e o estilo de nossas vidas. Tudo isso, entremesclado, derramado num jarro onde jazem as duas margens e oscilam os peregrinos na relva da existência, aos olhos cândidos das estrelas! Abismado, com um quê de perplexidade, o tráfego constante entre a fantasia e a realidade. Peregrinando com os pés descalços, suscetível como um botão, a alma já não sabe o que dizer…