Guerra Junqueiro
CANÇÃO DE BATALHA
Que durmam, muito embora, os pálidos amantes,
Que andaram contemplando a lua branca e fria…
Levantai-vos, heróis, e despertai, gigantes!
Já canta pelo azul sereno a cotovia
E já rasga o arado as terras fumegantes…
Entra-nos pelo peito em borbotões joviais
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d’arsenais;
É bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais!
Acendei a fornalha enorme — a Inspiração.
Dai-lhe lenha, — A Verdade, a Justiça, o Direito —
E harmonia e pureza, e febre, e indignação;
E pra que a lavareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!
Há-de-nos devorar, talvez, o incêndio; embora!
O poeta é como o sol: o fogo que ele encerra
É quem espalha a luz nessa amplidão sonora…
Queimemo-nos a nós, iluminando a terra!
Somos lava, e a lava é quem produz a aurora!
1
“Alegria é o sofrimento amoroso, sofrimento espiritualizado”.
2
“Nas almas medíocres e superficiais atua sobretudo a realidade transitória das linhas e dos sons, das formas e das cores. As naturezas elevadas, ao contrário, são sempre objetivas e metafísicas”.
3
“Na alma da maioria dos homens grunhe ainda, baixo e voraz, o focinho do porco”.
4
“Em tudo o que alvorece há um sorriso de esperança”.
5
“Se nos amesquinharem a fama e cercearem a glória, desviando de nós as multidões, que não pensam e vão para onde as levam, melhor. Os que nos querem, os que nos amam, os que nos entendem, ficarão conosco. Os outros, deixando-nos, prestam-nos favor”.