Já, pois, vistes, Irmãos Caboverdeanos,
Que as nossas lindas e queridas Ilhas
Contam a história de remotos anos
Da Atlântida, da qual elas são filhas.
Nós pisamos, nós filhos e habitantes,
Talvez a mesma terra que os Atlantes
Ocupavam nos séculos passados…
Mas somos filhos, – nós, – de outros gigantes
Que, “por mares não de antes navegados”,
Nossas Ilhas tiraram do mistério
Repovoando estes restos espalhados,
Do antigo e imenso Continente Hespério,
De que o Atlântico é o cemitério…
Viva, pois, para sempre, Portugal,
Da Civilização nosso fanal!
- José Lopes da Silva (Ribeira Brava, ilha de São Nicolau, Cabo Verde, 15 de Janeiro de 1872 — Mindelo, 2 de Setembro de 1962) foi um professor, jornalista e poeta cabo-verdiano. É natural da Ribeira Brava, capital da Ilha de São Nicolau. Por volta do início do século XX, mudou-se para o Mindelo, na zona oeste da ilha de São Vicente, onde mais tarde conheceu familiares. Suas ideias poéticas foram trazidas para outras histórias dentro da revista Claridade publicada pela primeira vez em 1936. Morreu aos 90 anos no Mindelo, na ilha de São Vicente, altura em que foi considerado o primeiro escritor mais longevo de Cabo Verde.
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Referem lendas antigas
Que lá nos confins do mar
As Hespéridas ficavam
E o famoso pomar
Paraíso de ventura
Que de encantos lá havia!
Era a terra mais donosa
Que a rosa do sol cobria
- Pedro Monteiro Cardoso, escritor cabo-verdiano nascido em 1890, na Ilha do Fogo, e falecido em 1942, na cidade da Praia. Professor do ensino primário, salientou-se no jornalismo ao defender os interesses sociais, políticos e económicos de Cabo Verde. Publicou Folclore Cabo-Verdiano (1933), Pelos Direitos do Crioulo (1933) e Profissão de Fé (1934), uma série de sonetos e redondilhas. Dirigiu o jornal Manduco e colaborou na Voz de Cabo Verde onde publicou cerca de 33 crónicas de intervenção cívica e política publicadas em 37 números do jornal.
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Destroços de que Continente
De que cataclismos,
De que sismos,
De que mistérios?…
- Jorge Vera-Cruz Barbosa(Cidade da Praia, Cabo Verde, 22 de maio de 1902 – Cova da Piedade/Almada, 6 de janeiro de 1971 foi um escritor cabo–verdiano. Nasceu na ilha de Santiago, fez os seus estudos primários entre Lisboa e a Cidade da Praia. Aos dezoito anos começou a trabalhar na Alfândega de São Vicente. Aposentou-se na Ilha do Sal em 1967. Em 1970, já debilitado, foi viver para Lisboa, onde faleceu. Colaborou em várias revistas e jornais portugueses e cabo–verdianos e ainda na revista luso-brasileira Atlântico [1]. Com a publicação do seu primeiro livro, Arquipélago em 1935 foi um marco para o nascimento da poesia cabo-verdiana, e por isso é considerado o pioneiro da moderna poesia cabo verdiana, onde os problemas sociais e políticos passaram a constituir uma das grandes temáticas do escritor. Jorge Barbosa escreveu ainda Ambiente (1941), Caderno de um Ilhéu (1955, Prémio Camilo Pessanha) e, na altura os proibidos, mas editados mais recentemente, Meio Milénio, Júbilo e Panfletário.