
1
Tal cripta, o coração,
é a Barca do Sol fazendo a travessia
pelo mundo escuro
dos seres ainda apequenados
pela necedade e incultura.
2
Cristina – a Mulher que está porvir,
mães dos Cristos por sorrir.
Já seja Ísis ou Maria,
já seja rainha ou santa peregrina.
Do Ganges ao Eufrates,
do Eufrates ao Nilo,
do Nilo ao Tejo sibilino
e do Tejo altivo ao Mississipi,
e do Mississipi ao Amazonas
e do Amazonas ao Prata
– a Raça Dourada que está por vir.
3
O melhor, nesta Era Obscura,
não está onde todos estão.
Acha-se defronte ao esquecimento,
defronte ao vigor, à beleza
tão inaudita e tão amesquinhada
pelos homens.
4
O coração é um Campos Elíseos,
um Mar de Juncos… ou o Tártaro abominável!
A vida é um moinho, um moinho fantástico,
onde a realidade é o Mistério.
5
Este mundo-lacrimário
é um ergástulo
onde canta o rouxinol
e não é ouvido.
6
Deus, o Eterno: em Ti repousa meu Ser,
ontem como agora e amanhã, eternamente.
Eternamente em Ti suspiro e vibro,
eternamente em Teu páramo infinito,
para sempre em Teu útero eu vivo.
Em Ti, ó eterno e insondável, está a razão de ser da vida,
e os teus Mistérios são as flores do amanhecer.
7
Perder sem perder, na descida,
a luz oculta diamantina,
pois no fundo forte brilha,
– manso e grácil -,
o Sol oculto que em todos vibra.
8
Este saber, este Arcano Secreto,
este clausural conhecimento
ocluso às massas e tido como negro ou absurdo,
não se destina às mentes impúberes,
àqueles que estão fora do templo.
9
Por amor à vida muitos a perdem.
A bandeira da Liberdade
não tem nome, cor, partido ou raça.
Ela é por ser ela mesma e à si basta.
Só o Amor é seu lema: a Fraternidade.

10
O Tempo é o sepulcro dos corpos,
a Eternidade onde os espíritos sempre hão de estar.
Não é a morte que devemos temer,
mas a vida sem norte.
O Amor é o fanal e a Arte o seu lídimo espelho
onde revela-se a beleza da alma.
11
Chatice é viver recluso em palavras,
Trocando sempre miúdos
Sem valor ou precisão.
12
Os mortos estão vivos
e os vivos estão mortos.
A vida é uma tumba para o corpo
e uma seara à imortalidade.
13
A estrela que mais rutila,
a estrela de meus olhos flamígera,
a gema preciosa que é minha vida
é justamente a que não vejo
e a que vive eternamente embevecida.
14
A consciência está além de partidos,
porque a consciência é global e não partida.
Se a consciência é partidária,
é porque está partida.
Assim, não é na parte, mas no todo,
onde está a clareza e a verdade.
15
O tempo que coube-nos
cabe em nossa palma
ou há de extrapolar?

16
Deus nos fez belos, esplêndidos,
mas nós insistimos em sermos feios.
A formosura não está em acreditar,
senão como início de estrada,
mas em saber com perfeição
aquilo que é tal como é.
17
Quem vive para servir sem diferenciar é sábio.
Quem renuncia às facilidades dos gozos e das ambições mundanas
reconheceu que essa é a vida dos comuns, o caminho oposto
aos que andam no fio da navalha, tão estreito e íngreme é o caminho.
E por reconhecer em si uma eterna luz esmeraldina, jamais inextinguível,
é que assumiu-se como resto esquálido do tempo, ou melhor,
o seu corpo tão diminuto, tão-só um reflexo e carruagem de uma imagem superior.
E por isso não partilha das vulgares efemérides, dos saltimbancos das praças públicas,
do cesarismo monopolista e arbitrário, dos liames da guerra e da paz falsa.
É ser de elevada cultura onde religião, filosofia, ciência, política, arte, céu e mar estão
todos contemplados, porém, a nível supra-humano. Estado deífico de seres superiores
como os do Gobi, dos Himalaias, das concavidades ocas do fundo da terra…
Plagas invisíveis a que se conduzem, assumindo a verdadeira forma de seu Ser.
E por saber entender-se-á a crisálida em ruptura, a larva que enfim tornou-se livre
da carapaça, do invólucro físico, e agora – por fim! – alça voo ao céu infinito.
18
Mi papá vive en el cielo,
eternamente oscuro.
Su luz es su hijo,
yo y tú.
19
[O Naufrágio dos Sentidos]
Que hodierna compleição esta,
do mais cru ateísmo,
que não enxerga com os olhos
do espírito e somente com os
olhos físicos!
Depositando nestes a “realidade”,
de certo ela nos ludibria,
muito maior e ampla
que o estreito sulco
de nossas vãs filosofias.
Fugata infeliz
malfadada ao fracasso.
Precoce é a ignorância
e lépida a sabedoria.
Uma irrompe,
a outra aguarda.
Ó homem de barro,
ó homem de argila,
que vã presunção
tomar a realidade
pelos cinco sentidos!
Isso, por acaso, é Sabedoria?
20
Se parássemos para ver,
veríamos que não vemos.
Somente vê-se com os olhos
quando abre-se o peito.
E é, realmente, quem sabe
que é o que não chega a ser.
