Extraído de “POESIA CLÁSSICA CHINESA – DINASTIA TANG: APRESENTAÇÃO, ALGUNS POEMAS”, por RICARDO PRIMO PORTUGAL e dos “Poemas Clássicos Chineses”, tradução e organização de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi, L&PM Pocket.

Canção da cidade Wei
A chuva da manhã sobre a poeira leve,
no albergue ao pátio o verde intenso dos salgueiros;
então, senhor, toma outro copo deste vinho:
a oeste, além do Passo Yang, não tens amigos.
A cascata dos pássaros
quietude caem as flores da canela
à noite pousam a montanha cala
súbito aponta a lua – a primavera
desperta em brados pássaros cascata
Lago Qi
Ao som de uma flauta,
diante do poente,
adeus ao meu amigo,
na beira do lago.
Por um instante,
olho para trás:
avisto apenas verdes montes
e colares de brancas nuvens.
Despedida
Desça do cavalo,
beba um copo de vinho…
Aonde você vai?
Cansado deste mundo,
volto para descansar
nas montanhas do Sul.
Bem, então vá,
não faço mais perguntas.
Nuvens brancas,
de doer a vista.
Pássaros cantando na ravina
Maravilhoso repouso!
As flores da acácia
pousam nos meus cabelos!
O azul dos montes desertos
acentua a quietude
da noite.
Surge a lua,
desperta o pássaro:
às vezes ele canta
e adeja sobre a torrente.

Resposta ao meu Irmão Zhang Wu
Minha humilde casa
dá para as montanhas do sul.
Faz tempo que ninguém me visita,
por isso a porta sempre fechada.
Sem preocupações ao longo do dia,
aprecio meu longo repouso.
Pego minha vara de pescar
e tranquilamente esvazio
o odre de vinho.
Se quiser me visitar,
venha, será um prazer.
Outono de tarde na Montanha
Chove há pouco
na montanha deserta.
De frescor a brisa da tarde
enche o outono…
Nos galhos dos pinheiros,
pinhas de raios de lua.
Uma fonte pura acaricia
os rochedos.
Quase a tocar nas flores de lótus,
as barcas dos pescadores.
Risos entre os bambus:
são as lavadeiras que voltam.
Por tudo quanto é lado,
ainda a beleza da primavera…
Por que também você
não fica mais um pouco?
Na Montanha
Rochedos brancos
da torrente emergem.
Folhas vermelhas,
aqui e ali,
sob o céu gelado.
Não choveu
na trilha da montanha,
mas o azul do vazio
molha nossas roupas.
Missão na Fronteira
Carro solitário passa
pelas estradas da fronteira.
Juyan ficou para trás:
eis o país ocupado.
Ervas errantes,
fora das muralhas dos Han.
Gansos selvagens perdidos
no céu bárbaro.
Deserto imenso:
ao longe, um rolo de fumaça.
Sobre o rio pousa
o disco do poente.
No Passo da Desolação,
enfim uma patrulha.
“E o quartel-general?”
“No monte das Andorinhas”.
A caça
Ao vento vibram
as cordas dos arcos.
O general caça
nos arredores de Weicheng.
Grama baixa,
olhar penetrante
de águia.
Neve derretida,
patas dos cavalos
mais livres.
Passando a galope
pelo Mercado da Abundância,
chegamos, alegres, ao Campo dos Salgueiros Esguios.
No horizonte,
lá
onde caem os abutres,
sobre mil li,
as nuvens da noite.
