Canto aos mares íntimos
e aos mares nunca dantes
aqueles que cabem no peito
e os que extravasam em pranto
Canto aos seus marulhos
e ao silêncio que nos olhos planta
esse verde azul doído
galopando o horizonte em fuga
Mas com mãos de seda e névoa
uterino invade
deixando o sêmen de sal
no ventre do dia que nasce
É o meu coração
este pássaro
Não leve, quase ar
beija-flor
Mas farto de cores
Tatuado das dores
gozos mágoas amores
pelas mãos da Vida
Bem assim
pesado
voa seu voo
árduo
buscando mais vida
Tenho em mim
o tempo
da flor de pedra
A carne que me forma
a pétala que me desabrocha
o pólen que me fecunda
sonham seus mares nas águas
turquesas
Ensimesmados titicacas
medusam,
sinto a pulsação de riachos
sob a pele espelhada
Plenilúnio
a luz no auge
se concentra
em fruto madurado
à sombra
carne de mel
de sangue
tecida em silêncio
na luta no escuro
sob o peso da terra
na lida dura
de escavar-
-se
em busca das águas
doçura que agora
deleita a língua
leito onde deita
o sumo segredo
de lama e abismo