Norte e oeste e sul se espalham,
tronos racham, reinos falham.
Foge à terra oriental,
sorve o ar patriarcal,
E no amar, beber, cantar,
Quíser vai te remoçar.
Onde tudo é justo e puro
Vou buscar com muito apuro
a raça humana, lá na origem,
quando ouvia – sem vertigem –
na sua língua o tom de Deus,
claro outrora para os seus.
Onde os pais ainda honrava,
e outros cultos rejeitava,
vou gozar do desatino,
com fé ampla e pouco tino,
já que o forte era a palavra,
pois falada era a palavra.
Aos pastores vou mesclar-me,
num oásis saciar-me;
quando em caravana e a pé:
há xale, almíscar e café.
Quero andar pelas picadas
do deserto até as muradas.
Nos rochedos, pela trilha,
com sua mula vai o guia;
às estrelas canta alto,
e medo assoma os maus de assalto.
Ó Hāfez! Sem teus poemas
esta terra tem problemas.
Pelas termas e tabernas
tuas honras canto eternas:
meu benzinho sopra o véu,
cachos d’âmbar solta ao léu.
Sim, o poeta, sussurrando,
deixa as huris se corando.
Saibam todos que o invejam
ou que seu caminho pejam,
que as palavras do poeta
fazem súplica discreta
na portada do Eterno
por um dia sempiterno.