RITMO
O RITMO em que gemo
doçuras e mágoas
é um dourado remo
por douradas águas.
Tudo, quando passo,
olha-me e suspira.
– Será meu compasso
que tanto os admira?
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EPITÁFIO DA NAVEGADORA
A Gastón Figueira
SE TE PERGUNTAREM quem era
essa que às areias e gelos
quis ensinar a primavera;
e que perdeu seus olhos pelos
mares sem deuses desta vida,
sabendo que, de assim perdê-los,
ficaria também perdida;
e que em algas e espumas presa
deixou sua alma agradecida;
essa que sofreu de beleza
e nunca desejou mais nada;
que nunca teve uma surpresa
em sua face iluminada,
dize: “Eu não pude conhecê-la,
sua história está mal contada,
mas seu nome, de barca e estrela,
foi: “SERENA DESESPERADA”.
MUITAS VELAS.
Muitos remos.
Âncora é outro falar …
Tempo que navegaremos
não se pode calcular.
Vimos as Plêiades. Vemos
agora a Estrela Polar.
Muitas velas. Muitos remos.
Curta vida. Longo mar.
Por água brava ou serena
deixamos nosso cantar,
vendo a voz como é pequena
sobre’ o comprimento do ar.
Se alguém ouvir, temos pena:
só cantamos para o mar …
Nem tormenta nem tormento
nos poderia parar.
(Muitas velas. Muitos remos.
Âncora é outro falar…)
Andamos entre água e vento
procurando o Rei do Mar.